Sabemos que hábitos saudáveis devem ser adquiridos o quanto antes.
Sabemos também que o sedentarismo e a obesidade são dois dos principais fatores de risco modificáveis para a saúde, sendo responsáveis por boa parte dos óbitos precoces.
Estes dois fatos já seriam suficientes para estimular a prática de esportes na adolescência, mas as razões vão muito além.
No passado bem próximo, a atividade física natural, aquela necessária para realizarmos nossos afazeres diários, eram intensas.
Nossos pais andavam cerca de 5 kms por dia para ir às poucas escolas das cidades. Nossas avós tinham grande atividade lavando roupas, passando com ferros pesados e limpando a casa que eram desprovidas dos nossos modernos pisos (tão práticos!). As crianças brincavam livremente nas ruas, andavam de bicicleta, corriam, subiam em árvores. Passavam horas fazendo atividades físicas e tomando sol.
Muitos pais e avós se recusam a ver a necessidade de substituir estes saudáveis hábitos (quase impossíveis nas grandes cidades) por atividades físicas programadas. Fazer esportes durante uma hora pelo menos 4 xs por semana é garantir atividade física mínima pelo menos metade dos dias do ano (lembrem-se que a semana tem 7 dias e que existem feriados e férias!).
No entanto existem outras vantagens para a atividade física programada, não tão fáceis de enxergar como as anteriores.
Uma delas é aprender a obedecer regras. Num tempo em que quase não existem restrições aos adolescentes, obedecer a um técnico, que poderá puni-lo até com a exclusão da equipe, pode ser vital para a formação do caráter.
No esporte o adolescente aprende a relação causa – consequência: “Se eu treino fico bom, se não treino, estou fora”, “Se não me dedicar não tenho chance de vencer”, etc.
Aprende a se preparar com antecedência para eventos futuros. Na escola costumam estudar na véspera, ou deixar o trabalho para o último dia. No esporte isto não funciona. Muitos adolescentes ensaiam o ano inteiro para apresentações de dança e patinação no final do ano.
Aprende-se responsabilidade para com o grupo, não dá para “dormir mais um pouquinho” no dia da competição, deixando os companheiros “na mão”. Corre-se o risco de ser marginalizado se assim o fizer.
Experimenta-se na derrota ou ao ser preterido para o time, o gosto da frustração, sentimento que os pais de hoje não permitem que os filhos experimentem, nem mesmo na hora de “tirar a chupeta”. Treino este que aumenta o QE (coeficiente emocional) e prepara o jovem para as várias frustrações, que nenhum de nós escapa de enfrentar, sem ter que recorrer a nenhum tipo de droga (sejam elas lícitas ou ilícitas).
Todos nossos precisamos ter também a sensação de sermos especiais e de sermos notados em meio a multidão. O adolescente esportista não precisa recorrer a tinta no cabelo ou piercings com esta finalidade. Na hora de um espetáculo, de um jogo ou uma competição, lá estarão seus pais e amigos, torcendo e se orgulhando dele. Neste momento ELE será o centro das atenções.
Temos apenas que cuidar que a partir dos 12 anos a atividade física escolhida vá de encontro a dois pontos: aptidão física e gosto pessoal. O adolescente forçado a praticar esportes muito além de suas condições (ex.: baixa estatura e basquete) estará fadado ao insucesso independentemente de seus esforços, o que é cruel. Unir todas estas vantagens ao prazer e à felicidade é o nosso ideal. Portanto devemos deixar que nossos filhos conheçam o maior número possível de modalidades para que possam fazer uma opção consciente. O tempo mínimo para se conhecer uma modalidade é de 6 meses. Não se deve permitir que a criança abandone o esporte antes deste prazo, pois estaríamos indo contra o aprendizado da persistência e construindo jovens volúveis, indolentes e irresponsáveis.
Espero estar contribuindo para que os pais estejam mais cientes de sua importância na formação do caráter e da felicidade de seus filhos, não só com condescendência, mas também com autoridade e amor.
Márcia Rodrigues Anteghini
CRM 65275
Especialista em adolescentes.