“Naqueles dias raramente o Senhor falava, e as visões não eram frequentes” (1Sm 3:1)

Assustador! Pois o silêncio de Deus é, em última análise, a nossa morte. Em termos positivos se poderia dizer que nós vivemos porque Deus fala: o ar que respiramos, o solo que pisamos, a comida que degustamos, as relações que construímos e a esperança que nutrimos são fruto da realidade de Deus e do seu amor natural e restaurador para cada um e para todos nós. Assim, quando nos afastamos da presença de Deus e a sua Palavra vai se transformando em silêncio, nós estamos vivenciando a nossa própria morte: a esperança vai embora, as relações se rompem, falta comida na mesa de muitos, o solo que pisamos expulsa muitos e o ar que respiramos começa a se poluir. Quando a Palavra de Deus já não ecoa em nosso meio, os sacerdotes se tornam exploradores desavergonhados, os guerreiros morrem nas batalhas, a sociedade entra em crise e vai em busca de algum plano que possa salvar a nação – como na experiência de Israel. Ou, falando da nossa realidade e mudando apenas algumas descrições: as crianças são violentadas, os idosos abandonados, as guerras vão destruindo as vidas e os refugiados já não encontram acolhimento, as intrigas políticas são egocêntricas e a corrupção parece não ter fim e já não há “Lava Jato” que dê jeito. E tudo isso é encontrado dentro e fora da “Casa do Senhor”. Então, o nosso coração grita como o salmista: “Até quando, Senhor, até quando?” (Sl 6:3).

Uma das descrições que considero mais dramáticas sobre o momento que o povo de Israel estava vivendo conta que, enquanto Samuel, ainda menino, “ministrava perante o Senhor”, e a realidade é que Deus havia se calado! Porém, Ele não desiste de nós e sempre encontra maneiras de voltar a chamar-nos para Si e para um estilo de vida que nos leve a encontrá-Lo e a escutá-Lo, expressando assim a nossa plena humanidade e cidadania, de forma individual e coletiva.

No livro de Samuel vimos como Ele fez isso com o menino que viria a dar nome a esse livro. Um menino que escutou, acolheu e obedeceu à voz-vocação de Deus, vindo a crescer “na presença do Senhor” (1Sm 2:21) e “sendo cada vez mais estimado pelo Senhor e pelo povo” (1Sm 2:26). Um menino que se tornou um estadista e uma personagem na política nacional por muitos anos, de forma que “a Palavra do Senhor espalhou-se por todo o Israel” (1Sm 41).

Graças a Deus, que falou com um menino e este O ouviu e O serviu. Quando os adultos criam que podiam ganhar suas batalhas de forma independente; quando a nação pensou que podia abandonar o modelo de sua vocação e ser “como as outras nações”, com os seus altos custos, seus mecanismos de exploração e idolatria; quando as próprias formas cultuais também favoreciam a exploração por meio dos dízimos (1Sm 2.12-16) e da prostituição; e quando o sacerdote titular já havia se tornado condescendente com a realidade e surdo para com Deus, Deus fala com o menino e o menino O escuta.

Graças a Deus, ele fala com o menino, ontem e hoje. E, graças a Deus, há tantas meninas e tantos meninos que ouvem a Deus e chamam os adultos à conversão para a adoração e o serviço a Deus, para que sejamos uma bênção às nações, assim como foi a vocação de Abraão, de Samuel e é a nossa. Que Deus nos ajude e Ele encontre em nós esse menino e essa menina. Amém!

Pr. Jefferson MartinsIgreja Evangélica de Peruíbe