“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”. (Efésios 2:8,9)
Sola fide é uma das bandeiras defendidas pela teologia reformada desde seu nascedouro. Todos os reformadores se levantaram vigorosamente contra a doutrina da salvação pelas obras, ou pelos méritos, ou da colaboração com Deus na salvação. Todos eles, desde o início de seu ministério reformado, afirmaram que a fé é o único instrumento que Deus nos dá para nos apossarmos da salvação que Ele concede graciosamente.
Havia uma forte doutrina romana que afirmava que a salvação era obtida por merecimento. Na medida em que a pessoa ia acumulando mérito diante de Deus, sua salvação ia ficando mais próxima. Mesmo que a pessoa não tivesse mérito suficiente para obter a salvação, esse mérito seria levado em conta para abreviar sua passagem pelo purgatório. O modo como o merecimento aumentava era pela prática de boas obras.
Contra a doutrina da salvação pelo mérito, a teologia reformada afirma que somos salvos pela graça mediante a fé. Nenhum de nós tem méritos para barganhar com Deus. Somos todos pecadores e, por isso, tudo o que merecemos é a morte, que é o salário devido ao nosso pecado (Rm 6.23). É uma grande bênção o fato de que Deus “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades” (Sl 103.10).
Mas se não somos salvos pelas indulgências, nem pela prática da caridade, nem pela piedade religiosa, nem por qualquer mérito que porventura pudermos imaginar ter, como nos apropriamos da salvação oferecida por Deus? Pela fé! (cf. Ef 2.8; Rm 1.17).
É pela fé que nos apropriamos do sacrifício que Jesus realizou na cruz em nosso lugar. A salvação é concedida graciosamente a todo aquele que crê (Jo 3.16). Quando entendemos que não temos mérito nenhum diante de Deus, que tudo o que fazemos sempre será manchado pelo pecado e que somos incapazes, por nós mesmos, de obter nossa salvação, nos refugiamos em Deus e encontramos abrigo seguro.
A grande descoberta do frade Martin Lutero nas Escrituras foi que “o justo viverá por fé” (Rm 1.17). Essa verdade bíblica chegou a ser um grito de batalha na Reforma.
A fé é a mão que recebe a dádiva de Deus em Jesus Cristo. Certamente para o evangelista João, receber a Cristo parece ser um equivalente de crer nEle (Jo 1.12). Por meio da fé fazemos nossos os benefícios de Cristo crucificado e ressuscitado. É nesses benefícios que descansa nossa segurança eterna de salvação.
A fé mediante a qual somos justificados não é cega, não é mera credulidade. Tampouco é a fé um mero assentimento à verdade revelada. É muito mais que um mero exercício intelectual. Ter fé é confiar, é abandonar-se nas mãos de Jesus Cristo, reconhecendo a enormidade de nossa culpa e a totalidade de nossa incapacidade para libertar-nos por nós mesmos do pecado. É admitir que os méritos humanos são inúteis para fins de justificação. É lançar mão do valor infinito da pessoa e obra do Filho de Deus.
A fé implica também obediência. Quando o homem crê que o Evangelho é a verdade, sente-se na obrigação de obedecê-lo. A fé que justifica não permanece só. Não é uma fé estéril, muito menos morta. O ensino de Tiago (2.14-26) se harmoniza plenamente com o ensino de Paulo, o qual afirma que não somos salvos por obras, mas sim, para obras que Deus “de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Estas boas obras são o fruto da salvação, não a causa dela.
Crer em Jesus Cristo significa, além do mais, entrar em sério compromisso com Ele, com sua Igreja e com a sociedade. Não recebemos Jesus Cristo para evadir nossas responsabilidades morais e viver como nos agrada, depois de haver adquirido uma apólice de seguro para a eternidade.
Jesus teve o cuidado de advertir as multidões sobre as dificuldades do caminho que Ele lhes propunha. Não guardou silêncio sobre as exigências do discipulado. Ninguém poderia queixar-se de que Ele lhes enganara com a oferta de uma “graça barata”. Seu interesse estava na qualidade, e não na quantidade de seus seguidores.
Jefferson Martins – Pastor da Igreja Evangélica de Peruíbe